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VIZINHANÇA

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Primeiro devo dizer que recebi vários emails e, portanto, agradeço profundamente a todos.

                        Alguém chegou a dizer que sou um comediante, mas longe disso. Até hoje nem sei qual é o meu talento artístico, ou melhor, não que eu acredite que não tenha algum, mas não sei fazer as pessoas rirem.

                        Mas, obrigado mesmo.

                        Agora, quanto a hoje, tenho que dizer que minha proposta são temas alegres e descompromissados, e acho que por isso, se tornam um tanto engraçados, no entanto, a vida nos traz momentos conturbados, em que parece que o vento vem forte e sempre do lado contrário.

                        Tudo é difícil, tudo é confuso, tudo é cinzento, então, hoje, vou deixar de lado outras idéias, aliás, elas nem surgem, para escrever sobre um tema sério e real na vida de todos nós: A vizinhança.

                        Quando eu era criança pequena lá na grande Taubaté, os vizinhos eram o Seu Zé Pena, o Seu Zé João, o Seu Nadir, o Seu Peixoto, suas mulheres, seus filhos e filhas.

                        Todos se conheciam e até conheciam os parentes uns dos outros, em razão das visitas, que eram mais frequentes do que nos dias de hoje.

                       Na adolescência fui ficando chic  e mudamos para o centro e então os vizinhos desapareceram. Não havia nenhuma pessoa da minha idade e os moradores simplesmente se cumprimentavam, apenas isso.

                        O tempo passou um pouco e retornamos para a casa anterior. A vizinhança toda estava lá. Os adultos mais velhos, as crianças adolescentes e os adolescentes jovens, isto além dos que nasceram.

                        Nós já não éramos crianças, já trabalhávamos e namorávamos, e a vizinhança igual, todos se cumprimentando, uns conversando com os outros, as donas de casa, sempre mandando um doce ou um bolo, e até mesmo cozinhado algo que algum vizinho e família gostassem para enviar de presente.

                        Adulto e morando em outras cidades pouco contato tive com vizinhos, mantendo a simples educação de cumprimentos.

                        Certa época, para estudar, morei em Paris alguns meses. Morei em um apartamento, 33 rue  S. Pichon  no 15 º arrondisement, próximo a Place d´Italie.

                        Se tratava de um prédio antigo, mais ou menos 5 andares, sem elevador, com uma escada em caracol. Boas acomodações e bem grandes. Eram mais ou menos quatro apartamentos por andar.

                        Em três meses de moradia eu não vi nenhum vizinho. Nunca ouvi qualquer som ou mesmo barulho vindo de um apartamento. A sensação é que só eu morava naquele prédio.

                        Na verdade eu não tinha vizinhos.

                        Tive experiência semelhante nos Estados Unidos onde uma de minhas filhas mora com o marido, em um bloco de apartamentos. São apartamentos no térreo e no primeiro andar, mais ou menos uns dez em cada lance.

                        Várias vezes estive lá. Nunca vi nenhum vizinho, mas pelos menos ouvi barulho da televisão ligada.

                        Já vi vizinho do bloco da frente, do outro lado da rua, mas do bloco onde eles moram não.

                        Hoje tenho alguns vizinhos, e poucos deles mais que isto, porque conversamos, bebemos, damos risadas, viajamos e nos ajudamos. Vizinhos de verdade.

                        Mas, volto à primeira vizinhança, e é lógico que muitos já morreram e alguns se mudaram, mas muitos ainda estão lá, e entre eles, meus pais, que são pessoas idosas e não querem sair de lá por qualquer preço.

                        Lá cada vizinho tem a chave da casa do outro. Eles se ajudam.

                        Quando meus pais viajam deixam a chave com alguém, que abre a casa, rega as plantas e deixa a casa limpa para quando eles retornam.

                        Não é só isso. Quando chegam encontram a mesa pronta, com pão, bolo, café, chocolate e outras comidas.

                        Isto que é vizinhança, e isto justifica não querer sair de lá.

                        É muito interessante observar este comportamento no interior, porque as pessoas são mais humanas, umas se preocupam mais com o bem estar das outras. Parece que uma pessoa, uma família, procura a felicidade da outra pessoa, da outra família.

                        Sempre pensei que o lugar bom para morar é onde ganhamos o nosso dinheiro, mas começo a ver que o lugar bom para morar é onde encontramos pessoas que também se preocupam com a gente, com o nosso bem estar.

                        A vizinhança pode ser sim uma extensão da nossa família e cabe a nós, termos este tipo de comportamento, mas também descobrir um local, uma vila, uma cidade, na qual vamos encontrar pessoas com este perfil.

                        O dinheiro é muito bom e não vivemos sem ele, mas uma boa vizinhança tem um valor impagável, e com certeza nos traz muitos momentos de conforto e alegria.

                        É isso ai minha gente. Hoje mais reflexão do que textos alegres.

                        É a vida. Vida pra frente.

               Me escrevam no email: jeferson@miriampetrone.com.br

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