O superintendente de Comunicação da Itaipu Binacional e presidente do Fundo Iguaçu, Gilmar Piolla, se indignou com a série de reportagens promovida esta semana pela Rede Globo e da RPC TV, sobre o contrabando e o tráfico de drogas e armas na região de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná.
“(…) mais uma vez mostram Foz do Iguaçu como uma região dominada por contrabandistas e traficantes, sem sequer o contraponto de mostrar aspectos positivos de uma cidade que luta, há muitos anos, para se livrar da imagem de terra sem lei”, disparou Piolla, em seu perfil no Facebook.
“Esta mesma cidade, ignorada quando realiza um grande evento internacional de sucesso, é impiedosamente massacrada pelas “câmeras do JH e do JN” quando a intenção é mostrar um dos problemas existentes em qualquer fronteira do Brasil(…)”, elencou.
Leia a seguir a manifestação de Piolla sobre o tema:
“OMISSÕES E EXCESSOS DA REDE GLOBO EM RELAÇÃO A FOZ DO IGUAÇU – Algumas observações a propósito da série de reportagens sobre o contrabando na fronteira do Brasil com o Paraguai, que mais uma vez mostram Foz do Iguaçu como uma região dominada por contrabandistas e traficantes, sem sequer o contraponto de mostrar aspectos positivos de uma cidade que luta, há muitos anos, para se livrar da imagem de terra sem lei.
1. Em primeiro lugar, é válido recordar que a Rede Globo pecou por grave omissão, ao sequer noticiar, em rede nacional, a realização dos X Games em Foz do Iguaçu, evento transmitido para 184 países, que foi exemplo de organização e rendeu imagens fantásticas. Por motivos empresariais, exclusivamente, não informou ao Brasil que Foz do Iguaçu foi a única cidade latino-americana a sediar os jogos radicais e que aqui se concentraram os maiores talentos do mundo em esportes de ação. Esportes, aliás, em que os brasileiros só são superados pelos americanos, inventores da maioria das modalidades e criadores dos X Games. O assunto foi ignorado em rede estadual e nacional e só teve uma pífia cobertura local.
2. Esta mesma cidade, ignorada quando realiza um grande evento internacional de sucesso, é impiedosamente massacrada pelas “câmeras do JH e do JN” quando a intenção é mostrar um dos problemas existentes em qualquer fronteira do Brasil, que é o contrabando. Aqui, tratado com requintes cinematográficos, com cenas de perseguições, imagens de prisões, de sobrevoos de helicópteros com lentes especiais e tudo aquilo a que se pode recorrer para criar o espetáculo da mídia.
3. O espectador, estupefato, vê em um espaço de pouco mais de cinco minutos um turbilhão de imagens de carros com mercadorias contrabandeadas, polícias fazendo o cerco, perseguições, gritaria, correria, como se esta fosse a rotina diária. Não fica claro, para o espectador, que às imagens colhidas pela reportagem da própria Globo, somam-se dezenas de outras que a Polícia Rodoviária Federal e a Receita Federal cederam. O espectador é iludido, como se aqui na fronteira o faroeste fosse uma rotina de cada minuto.
4. Ao mesmo tempo que presta um serviço à Receita Federal e à Polícia, ao mostrar ações relevantes de combate ao crime organizado, a Rede Globo deixou de lado todo um contexto, sequer se aprofundando numa questão óbvia: se a mercadoria sai do Paraguai em direção a grandes centros brasileiros, é porque há uma rede criminosa agindo na receptação, tão grande e tão danosa quanto aquela criada em regiões de fronteira para sustentar este comércio ilegal.
5. Os números são usados na reportagem como se falassem por si, sem sequer uma autoridade a lhes dar credibilidade. Foz do Iguaçu, “principal porta de entrada do contrabando”, movimenta por ano R$ 16 bilhões “só nessa região de fronteira”, número que não sofre qualquer alteração há muitos anos. Mera estimativa, baseia-se em quê? O número sustenta o espetáculo das imagens, é tão espetacular quanto.
6. Cabe ainda observar – o que não foi feito na reportagem – que, ao contrário de outras regiões de fronteira, aqui há uma fiscalização intensa, um policiamento ostensivo e um cuidado sem igual, por parte dos órgãos federais que coíbem o contrabando, o descaminho e o tráfico em geral. Se o número de prisões e de apreensões é maior do que em outros lugares, não é que o problema seja maior nesta região de fronteira, mas porque há maior repressão.
7. Com essas observações, não queremos censurar qualquer tipo de reportagem e muito menos fazer de conta que o problema não existe. Mas a seriedade do tema exige bem mais que mostrar perseguições, que passar a imagem de super-tiras na luta contra super-bandidos. É até um desserviço “glamourizar” e “hollywoodizar” a rotina do trabalho dos fiscais que evitam a entrada ilegal de mercadorias no Brasil, facilitada por uma política fiscal diferente daquela adotada no país vizinho e pela corrupção nas mais variadas esferas.
8. Mais uma vez, foi prejudicada a imagem de Foz do Iguaçu, berço de um patrimônio natural da humanidade e de uma das sete maravilhas mundiais da natureza, cidade que abriga, ainda, a usina responsável por abastecer 17% de todo o consumo de eletricidade do Brasil, atendendo principalmente o Sudeste do País. Sem sequer o contraponto de mostrar o que acontece de positivo, a exemplo dos X Games, indesculpável sob qualquer ponto de vista – principalmente o jornalístico, o da informação.”