Eles nos querem como consumidores e investidores, assim como muitos de nós sonham em voltar de Nova York com as burras recheadas de compras.
Mas a atração não vem de agora: o Departamento de Estado americano organizou, já no final de 2011, uma teleconferência específica sobre Brasil e China. O diretor geral de serviço de vistos, Ed Ramotowski, afirmou então que a meta para 2013 era “expandir nossa capacidade para emitir mais de 1,8 milhão de vistos no Brasil”. Arrematou:
— Há um tremendo impacto na economia americana e na geração de empregos.
Ele tinha razão. Em 2012, 1,8 milhão de brasileiros tomaram um avião rumo aos Estados Unidos. Estima-se que cada um tenha deixado, em média, cerca de US$ 6 mil nos bolsos dos americanos, contando a fatia convertida em impostos para o governo de Barack Obama (e para o de Dilma Rousseff também: acredite, pagamos 6,38% de tributo sobre gastos com cartão de crédito no Exterior). Pudera: uma calça de grife cotada a R$ 300, no Brasil, pode custar R$ 50 em Miami. A regra é geral, com preços três, quatro, cinco vezes menores. Daí o fato de haver gente que faça malas vazias para voltar de Miami com o enxoval do casamento ou até torneiras e maçanetas para a nova casa.
Os americanos, claro, vislumbraram um bom filão. Como disse ontem o embaixador no Brasil, Thomas Shannon, a estrutura diplomática por aqui não era condizente com o crescimento econômico brasileiro. E a expansão abre uma porta para setores como indústria e agricultura, vistos pelos americanos como interessantes para investimentos no Estado. O consulado ajudará a impulsionar negócios, explicou o secretário estadual de Desenvolvimento e Promoção de Investimentos, Mauro Knijnik:
— Nas negociações com grupos americanos, uma das primeiras questões que surgem é se há consulado na cidade. Outra é se tem voo direto.
Haverá voo. Conforme a American Airlines, até o segundo semestre entrará em operação a linha Porto Alegre-Miami, nos mesmos moldes de Curitiba. Só falta definir frequência e tarifas.
De volta ao consulado gaúcho: oficializado ontem, ele já era citado em documentos americanos em março de 2012, como parte de uma estratégia de Obama para amenizar a crise econômica com a atração de estrangeiros. O plano inclui uma campanha publicitária global, chamada de Brand USA. Passa, ainda, pela capacitação dos americanos para propiciar uma experiência única aos visitantes (US$ 4,8 bilhões foram gastos só em treinamento, em 2012), promoção de destinos secundários, investimentos em infraestrutura e facilitação do acesso ao país.
Aí entra Porto Alegre. Já em setembro de 2011, o Departamento de Estado mandou gente ao Brasil para avaliar a expansão das atividades. Em março de 2012, Obama recebeu um relatório informando metas como dobrar o número de oficiais consulares no Brasil, com prioridade para os fluentes em português, permitir renovações de vistos sem entrevista e isentar da conversa os brasileiros com menos de 16 anos e acima de 66 anos.
Resultado: o número de processamento de vistos para o Brasil cresceu 58% só no primeiro semestre de 2012. E, se tudo correr como querem os americanos, 2017 verá 70% a mais de brasileiros por lá do que em 2012. Haja dinheiro.