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Roberto Oliva compara o momento logístico de Brasil e Espanha

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Segundo o consultor, os países enfrentam momentos semelhantes em épocas distintas

Não existe uma ciência mais efetiva para oferecer-nos importantes momentos de reflexão do que o contato frequente e constante com o meio universitário.

Ha questão de poucas semanas, tive oportunidade de me pronunciar na palestra “Brasil, uma oportunidade para o negócio de Fusões e Aquisições” na Universidade Metodista de São Paulo – convidado pela professora Claudia Bock.

O principal objetivo foi transmitir aos espectadores a minha experiência pessoal nos vários anos dedicados ao negócio da logística materializada. E no final, minha palestra se transformou em um maravilhoso debate, com uma permanente troca de experiências e de análise de perspectivas sobre o momento econômico que atravessa o setor logístico no Brasil.

Tive oportunidade de comentar as semelhanças logísticas que existem entre o momento macroeconômico vivido pela Espanha há 15 anos e o atual vivido pelo Brasil, assim como as perspectivas para a próxima década. Posteriormente, recebi algumas consultas dos alunos sobre o assunto e achei interessante preparar este artigo, para apoiar as reflexões da comunidade brasileira sobre o assunto.

A situação econômica vivida pela Espanha no período de 90 até 2005 pode ser comparada com a situação econômica atual vivida pelo Brasil – O crescimento da economia, baseado fundamentalmente no apoio da comunidade europeia e internacional, a capacidade de atrair investimentos do mundo inteiro, a abertura do mercado de trabalho para a imigração – principalmente latino-americana – o fantástico crescimento da construção civil e de todos os segmentos econômicos ligados direta e indiretamente ao setor, a construção acelerada de infraestrutura para sediar os eventos internacionais (Olimpíadas de Barcelona, Madrid Capital Europeia e Exposição Internacional de Sevilla, todos em 1992) o desenfreado consumo interno e etc.  Esses são fatos que comprovam que o Brasil vive hoje, o milagre econômico vivido pela Espanha há 15/20 anos. Igualmente, existe uma absoluta semelhança nos eventos internacionais que a Espanha sediou e que o Brasil vai receber nos próximos anos.

A geração acelerada de infraestrutura – O esforço realizado pode ser resumido na duplicação dos aeroportos de Madrid e Barcelona, a criação de autovias e autopistas em todo o país, a modernização dos portos marítimos, especialmente os de Barcelona e Valência, a simplificação das travas burocráticas para a realização de operações de Importação e Exportação e os esforços realizados para a criação de infraestrutura de transporte de passageiros pelo sistema ferroviário – tanto urbano como interurbano e internacional. Nestes aspectos observamos outros fatos de situações que o Brasil está experimentando nestes momentos, que a Espanha enfrentou há questão de 15 anos atrás e que oferecem outra oportunidade de comparação sobre a viabilidade de realização de Planos Acelerados de Desenvolvimento.

Ainda analisando os paradigmas e semelhanças entre as duas economias, tão distintas aparentemente, a Espanha realizou uma verdadeira depuração no sistema de transporte de cargas – que ainda não foi finalizada – possivelmente sem uma planificação consciente. A concorrência entre empresas do setor, empurrando os preços a níveis muito baixos, ocasionou o desaparecimento de uma série de empresas tradicionais e o fortalecimento de outras organizações, especialmente mediante processos de compras e fusões. Este fenômeno também está acontecendo no Brasil, possivelmente de maneira silenciosa.

Atualmente, quando analisamos o quadro das empresas logísticas na Espanha, observamos que as 10 maiores organizações controlam mais de 45% do faturamento anual de operações terceirizadas. No Brasil, este quadro também avança para uma direção parecida.

O processo de terceirização logístico – Segundo estudos recentes, apenas 5% das empresas brasileiras confiam suas operações logísticas a um operador. Na Espanha, esse índice atinge mais de 40%. Neste aspecto, acredito firmemente que o Brasil vai sofrer um aumento significativo da terceirização das operações logísticas porque, pouco a pouco, as empresas vão procurar dedicar maior atenção ao núcleo duro dos seus negócios, confiando a gestão da atividade logística para especialistas.

De uma maneira resumida, a Espanha, motivada por alguns dos aspectos já mencionados, conseguiu realizar um importante esforço de modernização que o Brasil vem iniciando nos últimos anos. E a semelhança logística entre estas economias não para aqui. A Espanha – dentro da realidade europeia – é considerada um país de grandes dimensões territoriais e dispõe de um sistema geoeconômico de grandes diferenças regionais. No Brasil, a situação é a mesma.

Estou plenamente convencido, que o mercado brasileiro está sendo visto pelo empresário espanhol como um mercado muito interessante. A Espanha já é a segunda economia com maior volume de investimentos externos no Brasil, justamente pelas enormes oportunidades que o Brasil oferecerá para os investidores internacionais, pelo menos nos próximos 15 anos.

Conforme foi comentado durante o diálogo com os mais de 150 alunos na Universidade Metodista, o modelo logístico existente no Brasil deverá passar por profundas reformas.

O Brasil depara-se na atualidade com muitos gargalos logísticos, que são vistos pela população brasileira com um prisma de ameaças, mas que estão sendo vistos pelos investidores internacionais como a melhor oportunidade para a realização de negócios no curto, médio e longos prazos.

Minha intenção com a realização destas reflexões é, em primeiro lugar afirmar que devemos ter o otimismo necessário para enfrentar este momento de maneira proativa e não reativa. Durante muitas ocasiões, escutei os profissionais dos setores de Logística e Transporte da Espanha afirmarem: “Nossas Olimpíadas serão um verdadeiro desastre”, “Não estamos preparados para assumir este desafio perante o mundo”…

Devemos acreditar que efetivamente chegou a oportunidade de projetar nossa nação entre as mais desenvolvidas do mundo ocidental. Não é questão de um otimismo cego, é a constatação da realidade que esta à nossa vista e se queremos, podemos…

A grande vantagem de que o momento econômico favorável da economia brasileira coincida com a realização de tão importantes eventos internacionais, é forçar a realização de obras de grande alcance, que possivelmente não seriam realizadas sem esta pressão internacional. As atividades de Logística e Transportes vão experimentar um importante salto, tanto quantitativo como qualitativo atuando como verdadeiros motores para este processo de modernização do país.

*Roberto Lacerda Oliva tem a dupla nacionalidade brasileira e espanhola. Atualmente compartilha sua residência entre as cidades de Barcelona e São Paulo. É consultor logístico, trabalhando para várias organizações, e Diretor Geral da PRESS LOG ASSESSORIA PARA EMPRESAS DE LOGÍSTICA e TRANSPORTES. (www.presslog.com.br).

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